ECONOMIA Por EDUARDO GUERINI
No extremo da polarização política
“Enquanto o ser e a substância são independentes dos efeitos que possam produzir, na efetualidade o ser é, portanto, indiscernível de seus efeitos, consiste neles e é functional a eles.” (Giorgio Agamben. Limiar. Do mistério ao efeito. Opus Dei: arqueologia do ofício: Homo Sacer II, 2013.)
No limite da eleição presidencial de 2018 em primeiro turno, o que parecia definido se liquefez na polarização de candidaturas que indicam que as esperanças da sociedade brasileira na reformulação das campanhas, na forma de fazer política, foram soterradas pelo pragmatismo eleitoral. Os partidos políticos, as candidaturas e suas coligações trataram de impedir a renovação, reafirmando o caráter personalíssimo das escolhas eleitorais.
O exclusivismo de um partido e seu líder, o salvacionismo de outra candidatura traduzem a decepção geral com os caminhos tracejados na campanha eleitoral. O resultado será a escolha do menos rejeitado contra o mais rejeitado, nenhuma proposta tocante aos problemas estruturais do Brasil foi aprofundada e debatida com seriedade.
A eleição presidencial descolada das eleições estaduais, a falta de verticalização com alinhamento ideológico-político das candidaturas, traduz a apatia em relação às mudanças institucionais tão difundidas no período antecedente ao processo eleitoral. O modelo de Estado, as questões do Estado Democrático de Direito foram deixadas de lado, impondo uma agenda retrógrada no momento que completamos 30 anos de Constituição Cidadã, promulgada em 05 de outubro de 1988. Os oportunistas de ocasião, com sua agenda reformista, tratam de traçar um “círculo de fogo” em torno das reformas estruturais, tais como: Reforma Tributária, Reforma Previdenciária, reformulação do Pacto Federativo, privatizações com redução substantiva do papel do Estado. Novamente, a Constituição será emendada e remendada por interesses de grupos que legalizam o imoral e aético, garantindo mais e mais privilégios para corporações que insistem em saquear o miserável cidadão brasileiro.
A nau dos insensatos continua singrando num mar revolto nas águas brasileiras, na turbidez da maior crise econômico-social, associada ao descrédito que se generalizou na representação parlamentar. A prudência política, as propostas aquilatadas de candidatos que estão vinculados aos movimentos sociais foram atropeladas pela violência e ódio. Daí, o desalento traduzido em votos brancos e nulos que superam a média histórica das últimas eleições presidenciais, com incerteza eleitoral a cada nova rodada de pesquisas de intenção de voto. O distanciamento e virtualização das lutas sociais em prol da cidadania distanciou governantes e governados, representantes e representados.
O novelesco, o emocional e sentimental tomou conta do debate eleitoral, impulsionando uma onda perigosa que flerta com o autoritarismo, a xenofobia, o racismo, a misoginia, o fascismo societal, que traduziu no desabafo de lideranças diante do flerte com o retrocesso democrático veiculado abertamente sem freios por falastrões da caserna. As vivandeiras retomaram o discurso pela “Lei e Ordem” como alternativa única na desigual e violenta sociedade brasileira.
Na ausência de uma luta circunstancial liderada por espíritos republicanos e democráticos, em defesa do interesse público nacional, de uma sociedade mais inclusiva e igualitária, fará com que, o sistema de compromissos, trocas e privilégios, gerido por uma plêiade de burocratas e defensores da agenda produzida para o mercado, destrua o instável sistema de seguridade social que foi construído com muita luta, suor, sangue e lágrimas. O reformismo se traduz num sistema de operações políticas que tem um claro objetivo econômico, liberar os senhores do capital para um sistema de expropriação sem precedentes nesta republiqueta periférica tupiniquim.