ECONOMIA Por EDUARDO GUERINI
Tempos Sombrios na República dos Desalentados
“As siglas seriam especialistas em despertar paixões que comandariam o modo de pensar — e votar — das pessoas. Submetidas a uma ideia de que a única forma de progresso está na adesão à ideologia partidária, elas romperiam assim com a verdade, a justiça e a utilidade pública, consideradas aqui o oposto do que os partidos representam.” (Simone Weil. Sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos, 1943)
A Constituição Cidadã de 1988, completa 30 anos de existência no dia 05 de outubro, apenas dois dias antes do pleito eleitoral de 2018, uma das competições mais polarizadas e fragmentadas da história republicana recente no Brasil. A democracia brasileira segue um tortuoso caminho diante da desigualdade e exclusão que marcam a cidadania e seus concidadãos. Uma nação estigmatizada pelo descrédito nas principais instituições representativas, com poderes constituídos pela disputa irremediável em exorbitar sua influência, levando a crise de legitimidade e representatividade.
A fulanização da política descortinou o lado obscuro dos candidatos e suas candidaturas, vendidas como um produto vencido e sem conteúdo. A eleição presidencial em primeiro turno caminha para um plebiscito entre “salvadores da pátria”, com todo seu extremismo eivado de histeria coletiva na nação dos deserdados. Por outro lado, o Poder Legislativo, com seu modelo partidário se esfacelou na corrupção ativa e passiva das facções que organizaram formas de compadrio para saquear os fundos do erário público. Finalmente, o Poder Judiciário enveredou para formas de julgamento que destroçaram a Constituição Federal. Os supremos magistrados tratam de temas recorrentes do cotidiano parlamentar, tomam decisões no marco jurisprudencial que traduz a “hermenêutica de ocasião”.
As propostas dos principais candidatos ao pleito presidencial são norteadas por uma ação rotineira dos agentes de mercado, que impõe a dura ortodoxia e desejos que conjugam os horrores da vida cotidiana de milhares de brasileiros e brasileiras e brasileiros desempregados. Impunemente, o mercado assume a forma do “Leviatã” dando razão ao Estado nas reformas estruturais, na redução de direitos, simplificando a vida para empresários e complicando o futuro para os trabalhadores. A tutela do silêncio imposto no debate eleitoral se liquefez entre um “mito” e uma “ideia”, com candidatos sendo tutelados por desejos obscuros, impedindo a renovação soterrados pelo pragmatismo eleitoral. É a escolha do menos rejeitado contra o mais rejeitado, sintoma que caminha para o caos institucional, com a passividade mórbida do centro-democrático que se entregou ao fisiologismo partidário em troca de tempo eleitoral.
O salvacionismo e o exclusivismo das candidaturas que potencialmente chegarão ao segundo turno, no pleito eleitoral de 2018, indica o fracasso da reforma política, que descolou as eleições estaduais no processo de verticalização, fissurando o alinhamento político-ideológico nas coligações. A miscelânea das siglas partidárias se traduz na elevada apatia em relação ao novo padrão da competição eleitoral em que as mudanças foram legitimadas por um Congresso Nacional corrompido e degenerado, cada vez menos representativo da diversidade socioeconômica na sociedade brasileira. Assim seguimos para construção de uma agenda retrógrada em termos políticos e sociais, fascista em termos ideológicos, conservadora nos costumes, e, ultraliberal na economia. O “círculo vicioso” das reformas estruturais está traçado para a sociedade brasileira.
A reforma da previdência, a reforma tributária, o novo pacto federativo, privatizações e liquidação geral do patrimônio dos brasileiros, será referendado por um Congresso servil e subserviente aos interesses de grupos que legalizaram o imoral e aético, garantindo privilégios para um elite que insiste em saquear o miserável cidadão brasileiro.
A única certeza que colheremos no processo eleitoral sombrio que vivenciamos: o eleitor será um idiota funcional submetido ao estelionato de candidaturas nada representativas. Triste sina de uma republiqueta governada por enganadores no presente e saqueadores do futuro.