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ARTIGOS FEPAAE

Ajuste Fiscal e Desajuste Ideológico

Calculando com a régua e o compasso que legado restará para a “sociedade civil do trabalho” submetida ao mantra neoliberal caboclo da velha e boa “ideologia da tesoura”, ou, como os trabalhadores pagarão o custo da crise econômica brasileira.

Por Eduardo Guerini


O lançamento de mais um pacote de ajuste fiscal, nos primeiros meses do mandato reeleitoral de Dilma Rousseff, neste início primaveril de uma longa e duradoura crise política e econômica, indica que o grau de desajuste ideológico da atual gestão chegou ao limite do razoável, temos um ingrediente explosivo, a “tempestade perfeita”.

O cenário de recessão, agravado pela inflação persistente e desemprego em alta, foi traçado por incontáveis economistas e analistas de mercado, apontando que o ciclo de expansão e inclusão promovido pelo crédito ilimitado com conjuntura econômica mundial favorável, findou. A perda do “grau de investimento” do Brasil, destacado por uma agência de classificação de riscos, acenou para o governo federal e para os agentes econômicos, que o Brasil é a bola da vez na “crise de confiança”. O mundo político e econômico entrou em descompasso.

No início do segundo mandato, Dilma Rousseff e sua equipe econômica – representada por setores conservadores com a batuta ortodoxa, recitava a necessidade de um “remédio amargo” diante do descalabro fiscal das contas governamentais. Os primeiros ataques aos “direitos sociais” foram anunciados no primeiro ato da gestão, com cortes em benefícios sociais da previdência, redução no seguro desemprego e desoneração fiscal de empresas. O objetivo era equilibrar as contas e retomar o crescimento econômico (sic), ainda que, os boletins do Banco Central e Relatório Focus apontassem para uma recessão profunda e inflação persistente.

Diante de um cenário explosivo de crise econômica retroalimentada pela crise política, fato potencializado pela desmoralização dos partidos políticos na coligação governista, leia-se, a relação promíscua entre grandes empreiteiras com PT, PMDB, PP, PSDB et caterva, não restava outra alternativa senão fabricar o consenso em torno de cortes e aumentos de impostos – a ideologia da tesoura.

No enredo da política brasileira, o elemento central que tange a construção de país, deve combinar três coisas: liberdade, participação e justiça social. Essa gramática político-partidária, e, por assim dizer, da narrativa utópica nas agremiações, foi quebrada pelo estelionato eleitoral patrocinado pelos atuais governantes.

A conta do ajuste fiscal que pagaremos com mais inflação, desemprego, recessão, restrição dos direitos sociais, queda na renda, e, no “falso consenso” de sacrífico momentâneo, com o tal “imposto da travessia”, recriando a famigerada CPMF, alvejando em cheio a classe subalterna e trabalhadora, que tem “gorduras extras” para cortar, foi condição imposta pelo “sistema”, diante do cenário de crise fiscal. E nada de reduzir os “juros aviltantes” que são transferidos dos setores produtivos da sociedade brasileira, para o capital financeiro - rentista e improdutivo. O aumento da carga tributária com acesso restringido aos serviços públicos e retração nos direitos sociais, recoloca a dimensão do movimento sindical como protagonista em defesa dos trabalhadores contra a “ideologia da tesoura”.

O falseamento da política econômica brasileira , desajustada ideologicamente, com a débil legitimidade do sistema partidário e seus representantes no Congresso Nacional, transformarão esse enredo lengalenga , típico de um neoliberalismo tupiniquim , em arrocho sobre os trabalhadores , assombrados com o desemprego e perdas salariais, lançando sobre as classes que produzem a riqueza , além do tarifaço e tributaço, uma vida condicionada pela restrição material e ausência de direitos sociais. A ilusão que o problema econômico é meramente uma questão fiscal, ou da, crise fiscal do Estado (pela gestão perdulária) é uma cortina de fumaça que poderá desnortear as lutas sindicais futuras.

Afinal, toda política econômica, antes de tudo, é uma questão política, não da mística numerológica dos modelos econômicos.