ECONOMIA Por EDUARDO GUERINI
A Agenda Corrompida da Sociedade Brasileira
Nem o tempo é operário que ceda a outro a lima ou o alvião; ele fará mais e melhor do que as teorias do papel, válidas no papel e mancas na prática. O que posso afirmar-vos é que, não obstante as incertezas da idade, eles caminham, dispondo de algumas virtudes, que presumo essenciais à duração de um Estado. Uma delas, como já disse, é a perseverança, uma longa paciência de Penélope(...) [Machado de Assis. Sereníssima República, 1882]
A questão que permeia as recentes lutas políticas na sociedade brasileira, consubstancia uma agenda de reformas voltadas para uma suposta modernização. Tal proposta patrocinada pelo Governo Temer é uma miríade de intenções que rompe com a cultura tutelar do Estado brasileiro, uma nova onda liberalizante que preconiza o ideal de progresso que insere o Brasil no padrão global, segundo os mentores da área econômica.
A dinâmica da representatividade e legitimidade da agenda do Congresso, sob a batuta de um governo transitório, resultado de um processo do impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff, sepultaram as propostas progressistas e inclusivas num País marcado por altas taxas de desemprego e recessão aprofundada nos últimos dois anos (2014-2016). O pacto com as elites, protagonizou uma forma de consenso sobre a incapacidade de regulação estatal, e, indutor de investimentos nas áreas estratégicas, colocando em disputa sobre os grupos que gerenciam o Estado brasileiro. A disputa entre “reformistas” e “progressistas” é ofuscada pelas sucessivas fases da Operação Lava Jato, que desnudou a relação promíscua entre políticos e classe empresarial.
Na tentativa de reformar as relações entre capital-trabalhado, o governo Temer enfrenta resistência no movimento sindical para uma reforma trabalhista que flexibiliza e terceiriza a condição dos trabalhadores brasileiros assombrados pelo desemprego em ascensão, e, consequente queda na renda média. Noutro extremo, a proposta de reforma previdenciária é o desmantelamento do sistema de seguridade social, sendo ovacionada pela grande mídia e principais setores do empresariado brasileiro. As duas reformas sofrem enormes resistências na base parlamentar aquinhoada pelos beneplácitos do “presidencialismo de coalizão” que corrompeu todos os projetos de nação nos últimos mandatos, de FHC à Lula, de Dilma à Temer, a base parlamentar se degenerou no esteio do financiamento privado e na ascensão da corrupção política via “caixa dois”.
A agenda das reformas temerosas (sic) sofreram forte dissenso diante da reação negativa da “opinião pública”, da leniência do governo Temer frente aos sucessivos ministros envolvidos na tentativa de conter a divulgação da “Lista de Janot”, e, principalmente, na elevada ortodoxia da equipe econômica que pretende solapar os Direitos Sociais inscritos na Constituição de 1988, com elevação da carga de impostos. O custo da aprovação das reformas aumentou, com dilação dos prazos e ausência de uma defesa corporativa dos parlamentares envolvidos na base governista. Na tentativa de exorcizar a Operação Lava Jato, de estancar a sangria de parlamentares ávidos por cargos no aparato estatal, garantindo uma plataforma para suas aspirações eleitorais, assombram não somente os trabalhadores brasileiros, potencializam o arena de discórdias no interior da aliança conservadora que Michel Temer.
Neste momento do umbral político, o instinto de sobrevivência dos parlamentares está focado nas eleições de 2018, garantindo um raro momento de união para as forças vivas do movimento sindical e da sociedade brasileira, permitindo a reversão do quadro corrompido e degenerado da agenda pautada pelo sistema financeiro e grande empresariado nacional e internacional. Na conjuntura atual, com uma agenda de reformas corrompida, não cabe a paciência de Penélope, acreditando nas boas intenções da elite político-empresarial brasileira, mas agir com a sapiência de Ulisses. Caso contrário, faremos o lamento de Tétis (Ilíada): “Ai, meu filho, para que te criei eu, que terrível geração! E agora segues caminho para uma morte pronta, desgraçado, mais que todos.”