ECONOMIA Por EDUARDO GUERINI
Delatores e Detratores na Republiqueta em Reforma
A força de um regime democrático está em sobreviver às intempéries, incluindo aí as econômicas. (Fernando Abrucio,07/04/2017)
A doença da corrupção é epidêmica e endêmica na sociedade brasileira, não se trata de um problema exclusivo da sociedade brasileira, mas tem assumido importância considerável na atual conjuntura nacional.
A divulgação da “Lista de Fachin” envolvendo os principais partidos políticos que governaram a República brasileira nas últimas três décadas, demonstra o grau de degeneração do quadro político-ideológico, e, uma imperfeição na construção das instituições de forma recorrente. O pluralismo democrático, com excessivo número de partidos nos processos eleitorais competitivos produziu a excrescência para garantir a governabilidade à brasileira, o intitulado “presidencialismo de coalizão”, que é a síntese do modelo de cooptação e corrupção na conjuntura atual.
No enredo da sociedade brasileira, a construção nacional deveria combinar lutas políticas em torno da liberdade, participação e justiça social. Tal gramática político-partidária, por assim dizer, é a narrativa que move as utopias nas agremiações, sedimentando a trajetória para uma sociedade democrática.
Nessa trajetória tortuosa, a constituição de “dois Brasis” marca a interpretação sobre o “dualismo econômico”, compreendendo Estados (notadamente Sul e Sudeste brasileiro) industrializados, que representam “o moderno”, e, noutro território, compreendendo os Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, uma estrutura “arcaica e subdesenvolvida”, dominada pelos coronéis e latifundiários.
Nas estruturas sociais e instituições políticas de uma república periférica, como a brasileira, associações, sindicatos e partidos, compuseram o quadro de mudanças no paradigma político cultural, e, por decorrência da estrutura partidária, matizadas pela matriz ideológica
esquerda-direita. A ideia da modernização despertou amplos setores sociais, políticos e econômicos na tomada de consciência sobre a realidade nacional e a construção de um projeto nacional.
Na publicação do “Barômetro Latino”, a queda no apoio da democracia no Brasil, caiu 22%, fruto da crise política de envergadura, resultante de uma luta contra corrupção e crise econômica após o impedimento de Dilma Rousseff, em 2016.
Nas sucessivas manifestações contra o descaso dos governantes e representantes políticos diante da ausência de serviços públicos de qualidade e potencialização dos escândalos políticos de desvios de recursos do Estado brasileiro, desde junho de 2013, o descrédito contra governantes, parlamentares e partidos políticos contribuiu para a formação de um ideário liberal conservador.
Na institucionalização do sistema partidário brasileiro, se depreende o que Marx descreveu para criticar a ação política parlamentar, uma ilusão reforçada na fantasia que os deputados/senadores deveriam ter uma missão, uma incumbência, quando na verdade o mandato popular delegado é sequestrado pelos interesses privados, quando deveriam representar as questões públicas. Uma questão atual para a crise de representatividade e legitimidade no parlamento brasileiro.
Os delatores demonstram como se degenerou o sistema representativo na política brasileira, e, principalmente, como os partidos políticos se entregaram as “negociatas” de bastidor. Os partidos políticos, os parlamentares, os governantes em todos níveis não passam de detratores do padrão tortuoso de uma republiqueta periférica na América Latina.
A falta de um horizonte para democracia brasileira – um PROJETO DE NAÇÃO, determina a falta de um marco ideológico claro, preciso e distinto, que pode se transformar num sério obstáculo a ratificação da formação de um novo pacto social, elemento crucial da soberania popular, sustentando a lógica da democracia representativa. A descrença nos partidos políticos e na elite política, pode remeter a sociedade brasileira para o “desencantamento democrático” e os sombrios desejos autoritários.
Quando um governo transitório se propõe a reformar as estruturas sem amplo diálogo com os estratos sociais envolvidos, forjando transformações que reduzem as garantias constitucionais, falseando dados econômicos, impondo uma lógica perversa para um país em crise econômica, inegavelmente a realidade traduz em uma frase o dilema que vivenciamos hoje “a boa política não gera boas notícias”, sedimentando o caminho para construção de uma miragem democrática.
Quando tal governo se propõe a construir uma agenda de reformas afundado em corrupção (1/10 da Câmara de Deputados e 1/3 do Senado), considerando o quadro partidário-parlamentar degenerado dos três maiores partidos – PMDB, PSDB e PT, a grande transformação está no porvir histórico. Os movimentos da sociedade civil organizada ou não organizada apontam para um novo tempo em que a principal bandeira será: DIRETAS JÁ.
Assim, a sociedade proporcionará um “recall político” sem precedentes, conferindo legitimidade e representatividade para um debate sério sobre as reformas estruturais que o Brasil necessita.