ECONOMIA Por EDUARDO GUERINI
Governo Temer e a Estratégia Blitzkrieg
“Fomos historicamente educados para temer, obedecer e calar. Não é acidental que na história deste país as revoluções sejam revoluções de quem manda, e não de quem é mandado.” (José de Souza Martins. O Brasil dos Avessos. Valor, 26 de Maio de 2017)
Um governo deve montar estratégias para garantir sua estabilidade, evitando conflitos desnecessários e perda da legitimidade junto à opinião pública. Daí, o terreno da política sempre foi pautado por disputas e lutas intestinas para manutenção do poder, permitindo que seu programa seja implementado pela legitimação dos parlamentares.
Os alemães na Segunda Guerra usavam uma estratégia conhecida como Blitzkrieg ou guerra relâmpago, que usava de maneira coordenada a infantaria, os blindados e a aviação, que perfuravam as linhas inimigas, evitando o atrito com as forças inimigas. Essa tática militar era movida por ataques rápidos e de surpresa, com três elementos essenciais: o elemento-surpresa, a rapidez da manobra e a brutalidade do ataque.
Desde que assumiu transitoriamente, Michel Temer trata de agir de maneira análoga a estratégia alemã para aplacar os inimigos. A estratégia Blitzkrieg da coalização governista, lançou o primeiro slogan para reduzir a resistência de empresários e trabalhadores diante do desastre do Governo anterior de Dilma Rousseff. Para tanto, ungiu a equipe econômica que lançou um pacote de ações que tinha como objetivo reduzir o crescente déficit público e um pacote de reformas objetivando a “modernização” da estrutura produtiva brasileira.
No primeiro momento, apresentou um pacote estabelecendo o “Teto de Gastos Públicos” para os próximos 20 anos. E, sucessivamente, a Reforma Trabalhista e Previdenciária. O segundo passo, foi recompor a base política de apoio, consolidando a prática de cooptação forçada em prol das reformas e no reestabelecimento da confiança dos agentes de mercado. Tais estratégias foram adotadas com manobras rápidas unindo os velhos mecanismos do “presidencialismo de coalização”, com apoios em troca de cargos na Esplanada dos Ministérios.
A rapidez e brutalidade da ação no Congresso Nacional são corroboradas pelo controle do Presidente da Câmara e do Senado, filiados aos partidos políticos da base, controle de comissões essenciais para tramitação de projetos de interesse do governo, e, interlocução com o empresariado nacional apoiado no receituário das agências de risco e sistema financeiro. A oposição é sufocada pelos partidos da base, sem honrarias ou atritos.
Um fato marcante continua atormentando a sonhada estabilidade do Governo Temer, a base continua inflacionando seu apoio, em cada delação que envolve ministros, senadores e deputados da base parlamentar, e, o próprio Presidente. As defecções e traições são potencializadas pela divulgação na mídia de falsos resultados alcançados, tal como: fim da recessão, retomada dos investimentos e estagnação do desemprego. A crise econômica solapa a estabilidade política do governo. Os escândalos de corrupção que envolve o Presidente Temer e grande parte de sua equipe, escancaram a fraqueza das linhas de ataque.
A imposição veloz da agenda de reformas – Trabalhista e Previdenciária, desestruturou as linhas de resistência dos trabalhadores e sua representação sindical. Enquanto os partidos do front progressista se digladiavam sobre a narrativa do “golpe”, o governo promovia golpes certeiros para retirar direitos sociais dos trabalhadores. A desmoralização dos inimigos e a desorganização das forças opositoras eram combatidas por parlamentares acostumados ao confronto e ministros investidos no cargo com controle parlamentar.
Porém, tal como o exército alemão sucumbiu ao rigoroso inverno russo, o Governo Michel Temer continua agonizando no esteio da corrupção que se generalizou em todos os grandes partidos políticos de apoio e oposição. Assim, a agonia de um governo corrompido e insulado em seu bunker no Palácio Jaburu, pode indicar que a união de forças é uma lição para o enfrentamento dessa crise institucional, política, econômica e social em curso no Brasil. A possibilidade de reversão passa por uma democratização do poder, onde os agentes de mercado e seus representantes no empresariado não interfiram no mercado político de maneira acintosa.
Um novo pacto político deverá ser reestabelecido entre um Governo legitimo (eleito), trabalhadores e empresários, buscando reestabelecer o equilíbrio distributivo da riqueza nacional. Tal como Dilma Rousseff, o Presidente Michel Temer e sua coalização perdeu o momento histórico de construir uma ponte para o futuro!!