ECONOMIA Por EDUARDO GUERINI
A Pátria dos Desalentados
Uma coisa é um país, outra um ajuntamento. Uma coisa é um país, outra um regimento. Uma coisa é um país, outra o confinamento.
(Que país é este? Affonso Romano de Santana)
A sociedade brasileira continua demonstrando sinais de exaustão e pessimismo. As elites políticas nos principais quadros partidários permanecem alternando suas decisões de acordo com os grupos de interesses alavancados pelos agentes de mercado em seus desejos reformistas ortodoxos.
Nas diversas pesquisas de opinião pública, o desarranjo político-partidário demonstra uma descrença generalizada na solução eleitoral para a Presidência da República. Daí, o desejo de grupos do centro político em lançar um candidato de consenso que desobstrui a polarização desenhada no contexto atual.
A economia detona as perspectivas futuras, com o cardápio eleitoral colocado na parca mesa do conjunto de brasileiros desempregados e miseráveis. A reversão das expectativas é antevista na queda semanal do crescimento do PIB em 2018 (abaixo de 2%), contaminado o cenário prospectivo para 2019.
Não bastasse a recessão dos últimos anos, o crescimento pífio de 2017, neste ano eleitoral, as perspectivas pessimistas são potencializadas por candidaturas sem lastro programático, associadas a conjuntura internacional de guerra comercial, elevação dos juros nos EUA, com desvalorização do real frente ao dólar. É continuo o grau de especulação com as economias emergentes. A Turquia e Argentina sofreram o ataque especulativo, com revoada dos investidores internacionais, aumentando a crise política, econômica e social em suas sociedades. O Brasil parece ser a bola da vez.
Em recente estudo da OCDE, sobre mobilidade social brasileira, indica que 60% dos brasileiros mais pobres pensa que seu esforço não é o bastante para alcançar uma vida mais confortável, e, 35% dos filhos de pais posicionados no quintal mais pobre termina a vida na mesma condição social. Em síntese, as condições socioeconômicas em sucessivos governos progressistas ou não, impedem a ascensão social dos brasileiros, elevando a desesperança e desalento com o futuro do Brasil.
Na sociedade polarizada com fratura social exposta, a vastidão de trabalhadores informais e precarizados, manifesta seu desejo de sair do país. O êxodo verde-amarelo é alternativa acalentada por 43% da população adulta, subindo para 62% entre os jovens de 16 a 24 anos. Para os brasileiros com ensino superior, o percentual chega a 56%, nas classes A/B é de 51%. Vivemos na crença desesperançada que o Brasil não tem mais solução dado o quadro atual de crise continuada entre governantes e governados, com representantes políticos cada vez mais distantes dos anseios da população em geral.
Os brasileiros vivem num beco sem saída, polarizado por multidões de fundamentalistas de alcova que liquidificam os argumentos para um pacto social, corroendo as perspectivas políticas para um projeto de país. Para acelerar o elevador de ascensão social, a OCDE sugere a melhoria no gasto público, principalmente nas áreas de educação e saúde, a qualificação dos desempregados, a redistribuição de renda com aumento do gasto social para os cidadãos mais vulneráveis.
Inegavelmente, a rota das contrarreformas adotadas em favor dos agentes de mercado pelo governo putrefato de Michel Temer e sua coalizão conservadora, indica que estamos na contramão do desenvolvimento. Eis a formação de uma pátria de desalentados com a bandeira da desesperança. Continuamos semeando promessas e vento, com bocas de tempestade.